terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Incipit Tragoedia

Ó, espelho meu... quanto deste prateado que furtivamente brota em meus belos, belíssimos cabelos não é pai e filho das minhas mais elevadas esperanças? Eu mesmo sendo o espírito santo encarnado.
Eu poderia ter me apaixonado por uma santa; uma nobre sem-graça; por uma vida estável e um deplorável bem estar - Mas nunca tive esse azar!

Acabei de voltar do Hades. Perdi a conta - já tantas vezes! Os Campos Elísios nunca se me apresentaram tão floridos como hoje, deveras - e o mergulho no Lete... inominável. Pudera - ai, que presente dos deuses! - esquecer-me de minha vida inteira até aqui e começar tudo de novo. Descobrir tudo de novo. Ah, aquilo que eu já sei - que nunca secasse a fonte que me renova sempre o prazer de saber! Ai, Enkidu que vem da floresta enternecido pelo conhecimento do homem - ai, Enkidu em mim! -, me siga até onde for a minha tragédia, me siga até onde for a tua força, me sirva da tua bondade - eu mesmo, que começo cada dia com uma maldade! -, enche dela a minha justiça!

Que assombroso júbilo estar na minha pele hoje... quem o suportaria senão eu mesmo?! 

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