sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

ABM - Aforismo 269

Talvez seja leviano de minha parte trazer para o facebook algo tão grave... contudo, sou mesmo leviano desde a nascença e quero compartilhar aqui um excerto de um aforismo da última parte do "Além do Bem e do Mal" (Capítulo IX, "O Que é Nobre?") que ajuda a compreender - uma máscara, uma carapuça que a tantos serve!? - algumas manifestações da loucura, de Nietzsche a Belchior, o rapaz latino-americano sem dinheiro no banco. Um sugestivo aforismo 269: 

[Onde houver "JB" entre colchetes sou eu mesmo falando dentre o aforismo.]

"[...] É compreensível que eles precisamente sejam alvo, por parte da mulher - que é clarividente do mundo do sofrer e também ansiosa de ajudar e salvar, infelizmente muito além de suas forças -, dessas erupções de ilimitada e devotadíssima compaixão, que a multidão, sobretudo a multidão que venera, não entende e acumula de interpretações curiosas e autocomplacentes. Essa compaixão normalmente se ilude a respeito de sua força; a mulher quer acreditar que o amor tudo pode [JB: Lembram de "Eros e Psiquê"? É esse o mito grego, ao menos na versão de Apuleio, que deixa subentendido que o amor - o amor de EROS E PSIQUÊ, uma intensa paixão - tudo supera...] - eis aí propriamente a sua fé. Oh, o conhecedor do coração percebe quão pobre, desamparado, presunçoso, estúpido, canhestro, destruidor mais que salvador é inclusive o melhor e mais profundo amor! [JB: Aqui fala Nietzsche com suas "verdades", suas frustrações... sejamos indolentes para com ele! Ele merece.] - É possível que na santa fábula e disfarce da vida de Jesus esteja oculto o mais doloroso caso de martírio do conhecimento sobre o amor: o martírio do coração mais inocente e desejoso, que nenhum amor humano havia satisfeito, que exigia amor, ser amado e nada além, com dureza, com delírio, com terríveis acessos contra os que amor lhe negavam; a história de um pobre insaciado e insaciável no amor, que teve de inventar o inferno para povoá-lo dos que não queriam amá-lo - e que, conhecendo enfim o amor dos humanos, teve de inventar um Deus que é inteiramente amor, inteiramente capacidade de amar - que se compadece do amor humano, tão mísero, tão insciente! Quem sente deste modo, quem possui tal saber a respeito do amor - procura a morte. Mas por que se entregar a reflexões assim tão dolorosas? Supondo que não se tenha de fazê-lo. -"

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