Se 2015 fosse uma pessoa de quem eu pudesse me despedir, consciencioso de um incontornável - adeus..:
Por ti, nutrirei eterna gratidão, minha querida. Poucas pessoas que passaram pela minha vida me fariam olhar para trás com tanta ternura. E, deveras, se houvesse um espelho retrovisor na locomotiva que nos leva ao futuro, eu não poderia evitar de nele mirar o olhar, com um coração tão pleno de anseio como faço agora. Tu, que vieste sob o signo de Marte, o deus da guerra; vieste para reiterar: o que não me mata - me fortalece; tu, que vieste me desprezando - como só os grandes amantes sabem desprezar - intumesce meu espírito com mel de floradas silvestres, suavemente cortante como só a vida pode fazer. Como diria Zaratustra, o que sabe do amor aquele que não sabe desprezar o objeto amado? O grande amor tem seus caprichos, assim, ele guarda o seu valor.
Por vezes, teu silêncio dilacerara meus ouvidos - eu gritava abrigando-o do frio e me protegendo, me afastando, acautelando, de um terrível, horrorífico, auto-desprezo. Pois bem: aprendi a ouvir a beleza da sua melodia com os olhos - a mais bela canção que pude vislumbrar até aqui. Não à toa a mais bela melodia reconhecida pela humanidade foi elaborada por Beethoven já surdo: precisamos perder os sentidos para superá-los. Uma parábola.
Em janeiro, a saliva quente do teu mar lambia minhas pernas na Paraíba. Zaratustra era a rocha em que eu me assentava - não fosse isso, não seria eu tragado para as suas profundezas, sem volta? Tive fôlego, aprendi a fitar o abismo - ele fugiu de medo quando o fiz olhar-se a si no espelho...
Voltei para a Paraíba novamente, desta vez sem a Aurora, e, na volta, lia "Da Morte Livre" no momento exato em que entrávamos numa turbulência... meu arrepio deu testemunho: ainda não era a hora certa de morrer.
Em fevereiro, cortei o açúcar do café: foi o estratagema encontrado para expurgar-me o amargo de mim mesmo. Daí em diante, ao longo do ano, forcei uma interessantíssima mudança no meu metabolismo: aboli o açúcar; troquei gradativamente o chocolate por frutas; o mel passou a fazer parte da minha dieta diária. O chocolate, quando não muito refinado, de alta qualidade, me enfastia no primeiro toque da língua. Fora isso, um silêncio terrível: era a minha hora mais silenciosa falando no meu ouvido. E um terrível remorso me puxando para baixo... Recolhimento era mais que recomendado - era necessário.
Já em março, o céu desanuviado abria cintilante para mim: sob o seu azul eu vislumbrara a beleza da tragédia - como ela nasceu? Essa resposta, mais do que no livro, tive que encontrar, novamente, em mim mesmo.
Abril: a ilusão da tua belíssima aparência me cativara; uma musa, uma sereia estirada na beira do Paranoá, soprou com sua força apolínea uma canção para o meu peito. Que alegria! A primeira do ano, deveras. A mudança do tempo, como era de se esperar, me presenteou com uma leve sinusite, que durou menos de uma semana - nada que se compare com a minha claudicante saúde em 2013 e 2014.
Em maio, vieste para cobrir a noite com um luminoso cobertor de estrelas - os dias não tão frios quanto o usual: já aí se anunciava um ano mais quente que o comum. Assumi a função de Coordenador Pedagógico - para a qual havia sido "escolhido" no início do ano, na mais absoluta falta de interesse do resto do grupo de participar do caos administrativo, pedagógico e financeiro que constitui a instituição de ensino de que faço parte. Minha vaidade, meu orgulho, minha coragem, minha força, meu espírito: foram todos colocados em teste a partir de então - nada mais humano. Humano demais! Fui lançado numa fornalha, forjado contra uma estrela de diamante - resistiria? Até então, eu não sabia.
Como as aves brincam no céu azul-claro de junho - como numa dança alegre -, também eu o fizera: descobri alegremente, com desenvoltura inesperada, que eu também sabia dançar com os meus problemas, meus trabalhos, meus deveres! Que sabedoria alegre! Mas, nem por isso, me permitia descuido - contudo, para o meu gosto, certas coisas deveriam parecer difíceis de serem feitas - apesar de serem fáceis; outras, exatamente o contrário.
Confesso que neste exato momento sou incapaz de me recordar do meu aniversário. Julho foi cansativo - era o fim dos trabalhos que naquele momento me sobrecarregavam. Também aí, como em várias dimensões da vida, passamos pelas 3 transformações: eu era um camelo. De repente, vi a mim mesmo num deserto; saltou de mim um rugido: me tornara um leão - ali, quanto à dimensão do meu ofício. Uma nova aurora viria a raiar a partir de então: e entre, eu e meu grupo de afinidade, começou a germinar uma semente de um projeto; e intervenções pontuais que viriam a ser planejadas e executadas nos meses seguintes, atestando a nossa competência, a nossa habilidade. No recesso, no entanto, em poucos dias dou as lapidadas finais nas letras e arranjos e gravo o álbum deste ano, o poderoso, furioso, "Iñaron" - que presta um testemunho poético muito mais sutil das experiências deste ano até aqui.
Fora do trabalho, tudo permanecia árido, mais árido que o clima venturiventiano em agosto: eu estava mesmo num deserto. Apenas agora, por fins de dezembro, posso dizer ter encontrado alguma umidade - um oásis, talvez. Neste deserto, apenas eu e minha sombra... ai, "as histórias que posso contar!"
Em fevereiro, cortei o açúcar do café: foi o estratagema encontrado para expurgar-me o amargo de mim mesmo. Daí em diante, ao longo do ano, forcei uma interessantíssima mudança no meu metabolismo: aboli o açúcar; troquei gradativamente o chocolate por frutas; o mel passou a fazer parte da minha dieta diária. O chocolate, quando não muito refinado, de alta qualidade, me enfastia no primeiro toque da língua. Fora isso, um silêncio terrível: era a minha hora mais silenciosa falando no meu ouvido. E um terrível remorso me puxando para baixo... Recolhimento era mais que recomendado - era necessário.
Já em março, o céu desanuviado abria cintilante para mim: sob o seu azul eu vislumbrara a beleza da tragédia - como ela nasceu? Essa resposta, mais do que no livro, tive que encontrar, novamente, em mim mesmo.
Abril: a ilusão da tua belíssima aparência me cativara; uma musa, uma sereia estirada na beira do Paranoá, soprou com sua força apolínea uma canção para o meu peito. Que alegria! A primeira do ano, deveras. A mudança do tempo, como era de se esperar, me presenteou com uma leve sinusite, que durou menos de uma semana - nada que se compare com a minha claudicante saúde em 2013 e 2014.
Em maio, vieste para cobrir a noite com um luminoso cobertor de estrelas - os dias não tão frios quanto o usual: já aí se anunciava um ano mais quente que o comum. Assumi a função de Coordenador Pedagógico - para a qual havia sido "escolhido" no início do ano, na mais absoluta falta de interesse do resto do grupo de participar do caos administrativo, pedagógico e financeiro que constitui a instituição de ensino de que faço parte. Minha vaidade, meu orgulho, minha coragem, minha força, meu espírito: foram todos colocados em teste a partir de então - nada mais humano. Humano demais! Fui lançado numa fornalha, forjado contra uma estrela de diamante - resistiria? Até então, eu não sabia.
Como as aves brincam no céu azul-claro de junho - como numa dança alegre -, também eu o fizera: descobri alegremente, com desenvoltura inesperada, que eu também sabia dançar com os meus problemas, meus trabalhos, meus deveres! Que sabedoria alegre! Mas, nem por isso, me permitia descuido - contudo, para o meu gosto, certas coisas deveriam parecer difíceis de serem feitas - apesar de serem fáceis; outras, exatamente o contrário.
Confesso que neste exato momento sou incapaz de me recordar do meu aniversário. Julho foi cansativo - era o fim dos trabalhos que naquele momento me sobrecarregavam. Também aí, como em várias dimensões da vida, passamos pelas 3 transformações: eu era um camelo. De repente, vi a mim mesmo num deserto; saltou de mim um rugido: me tornara um leão - ali, quanto à dimensão do meu ofício. Uma nova aurora viria a raiar a partir de então: e entre, eu e meu grupo de afinidade, começou a germinar uma semente de um projeto; e intervenções pontuais que viriam a ser planejadas e executadas nos meses seguintes, atestando a nossa competência, a nossa habilidade. No recesso, no entanto, em poucos dias dou as lapidadas finais nas letras e arranjos e gravo o álbum deste ano, o poderoso, furioso, "Iñaron" - que presta um testemunho poético muito mais sutil das experiências deste ano até aqui.
Fora do trabalho, tudo permanecia árido, mais árido que o clima venturiventiano em agosto: eu estava mesmo num deserto. Apenas agora, por fins de dezembro, posso dizer ter encontrado alguma umidade - um oásis, talvez. Neste deserto, apenas eu e minha sombra... ai, "as histórias que posso contar!"
Em determinados desertos as noites são gélidas, a despeito do calor do dia. Era assim também comigo: setembro, apesar de insuportavelmente quente, dentro de mim era gelado. Também neste mês dormi uma noite fora de casa: mas o frio não me abandonava... Decidi, num lance egoísta, fazer uma viagem para um lugar mais quente: juntei meus dias de folga que sobravam e, na primeira quinzena de outubro, passei quatro noites no paraíso - Pipa, Rio Grande do Norte. As impressões deste momento estão por aqui.
Por pura sorte, uma semana antes de viajar consegui encontrar um novo lugar para morar e saí do Guará - para nunca mais voltar...? Que apenas na memória eu guarde algo daquele tempo tenebroso - e vim tomar posse do meu palácio - um palácio itinerante, deveras! - em Águas Claras.
Aí então reconheci, me dei conta de que a felicidade é, hoje e desde sempre, uma coisa egoísta: toda a moralidade que prega que "a alegria deve ser compartilhada", no fundo, me parece ser um sussurro desesperado de quem, fundamentalmente, não crê na sua felicidade - pois essa gente precisa "crer" em algo, sempre - e arrasta para ela algumas tristes testemunhas, que se veem forçadas a reconhecer firma de tal alegria - uma cartorialização dos afetos. Como disse o Andarilho, "a melhor coisa me seria repugnante, se alguém tivesse que partilhá-la comigo".
Com o coração mais quente - já havia voltado a chover em Brasília... - retornei do Paraíso para, mais um vez dentre tantas, descer ao Hades... Já era novembro. Lá, tive que fechar os olhos novamente para beijar a minha Medusa. Bom que fechei os olhos: pude sentir o seu gosto de pedra na boca (os sentidos devem ser ignorados e postos em anteparo contra outros, sempre meio desconfiados - "coração atado, espírito livre" é a fórmula). Esta foi a segunda noite fora de casa do ano. Não suportaria fazer isso de novo, contudo, valeu a experiência - de que outra forma eu poderia firmar-me como sou? Afirmar o que eu quero? Confesso: minha cama - a minha concha. Não vou adornar pescoços lânguidos; não vou lançar-me aos porcos! E se à minha volta há um visco asqueroso: que melhor forma haveria de manter-vos à distância, afetados desprezíveis?!
A Medusa fugiu, cheia de ódio, quando lancei contra ela um espelhinho inocente... Mal sabe ela que vivo eu numa casa espelhada - cada parede daqui dá testemunho sobre quem lhe fita! Ela não suportaria adentrar a minha casa, deveras; também, pois, já não é bem-vinda. "Quem aqui entra me dá um honra, quem não entra me dá prazer", está ali na minha porta.
Finalmente, chegamos em dezembro, e não posso evitar de olhar para trás novamente movido por amor, minha querida. Há exatamente um ano eu terminara o "Além de Mim", ainda muito impactado pelo "Ecce Homo", e lancei para mim uma meta: mergulhar na obra de Nietzsche no ano seguinte, de modo que eu pudesse, nadando neste mar, fortalecer as musculaturas do meu espírito - sabendo dos desafios contra os quais eu seria lançado pelo meu remorso, frustração e todos os outros atavismos do espírito do rebanho... E, vejam só: já não posso dizer de qualquer outro ano de minha vida o que eu diria de 2015: tudo o que vivi aqui redime meu passado e justifica meu futuro; tudo o que fiz este ano - devo estar soando repetitivo a esta altura... - o fiz por amor à vida, amor ao meu destino, de onde brota um deliberado orgulho. E, "tudo o que se faz por amor, está para além do bem e do mal".
Já vai alta a madrugada... não precisa dizer palavra! Adeus, meu amor! Como disse em outra oportunidade, sobre teu túmulo lancei sementes de flores e frutos - eu te honrei, da forma como pude. Nos veremos novamente - pintados nos quadros das paredes da memória... guarda contigo teu último beijo que eu guardo comigo meu afago. Será melhor assim!
Seja bem-vindo, estranho 2016! Traga o que trouxer: eu o honro - com minhas cinzas, minhas chamas, meu carvão, meu calor; com tudo o que sou, ardendo por amor.
Finalmente, chegamos em dezembro, e não posso evitar de olhar para trás novamente movido por amor, minha querida. Há exatamente um ano eu terminara o "Além de Mim", ainda muito impactado pelo "Ecce Homo", e lancei para mim uma meta: mergulhar na obra de Nietzsche no ano seguinte, de modo que eu pudesse, nadando neste mar, fortalecer as musculaturas do meu espírito - sabendo dos desafios contra os quais eu seria lançado pelo meu remorso, frustração e todos os outros atavismos do espírito do rebanho... E, vejam só: já não posso dizer de qualquer outro ano de minha vida o que eu diria de 2015: tudo o que vivi aqui redime meu passado e justifica meu futuro; tudo o que fiz este ano - devo estar soando repetitivo a esta altura... - o fiz por amor à vida, amor ao meu destino, de onde brota um deliberado orgulho. E, "tudo o que se faz por amor, está para além do bem e do mal".
Já vai alta a madrugada... não precisa dizer palavra! Adeus, meu amor! Como disse em outra oportunidade, sobre teu túmulo lancei sementes de flores e frutos - eu te honrei, da forma como pude. Nos veremos novamente - pintados nos quadros das paredes da memória... guarda contigo teu último beijo que eu guardo comigo meu afago. Será melhor assim!
Seja bem-vindo, estranho 2016! Traga o que trouxer: eu o honro - com minhas cinzas, minhas chamas, meu carvão, meu calor; com tudo o que sou, ardendo por amor.
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