20 páginas de "Além do Bem e Do Mal" e eu já posso garantir não ser o mesmo ser humano de antes... A virtu anti-dormitiva do livro me provoca o instinto de conhecer; a tentação travessa de mergulhar no livro me faz folheá-lo displicentemente, até encontrar o capítulo quarto - "Máximas e Interlúdios" - uma gruta de onde brotam a mais límpida água e as mais aromáticas flores de toda a natureza; um recanto perfeito pelo descanso, contemplação e júbilo diante da vida inteira...
Com frequência encontro eu mesmo, nas minhas caminhadas noturnas por infames bosques da vida, flores que fariam a humanidade superior inteira enternecer, decerto. Afinal, "também o concubinato foi corrompido - pelo casamento." [ABM, aforismo 123.] E, não por menos, contra elas pesa uma mesquinharia moral que as crucifica. Os hodiernos - que querem fazer parecer a si mesmos ante os outros, antes a nós, os superiores, importantes por sua renúncia diante da vida; querem parecer fortes por castrar sua coragem e, ainda assim, fazem pose de valentes (há toda espécie de recurso retórico para tal: "Eu respeito a escolha das pessoas, mas não posso concordar com tal coisa [o "homossexualismo", por exemplo]", "Tudo é racismo. Daqui a pouco vai ser crime ser branco", "Ser bom é fácil, o difícil é ser justo", e toda uma infinidade de "etc.s'") - com sua pele fina que disfarça mal o aspecto asqueroso das suas entranhas, querem angariar apoios entre os seus pares - e eles servem para outra coisa que não aglutinar o rebanho, gado desprovido de conteúdo, ovelhas de si mesmos? "Os apartados do rebanho devem sofrer", assim reza o orgulho do gado.
E aqui cabe a observação: não nos tornemos semelhantes aos monstros que combatemos [ABM, aforismo 146] - para tal, em determinado momento, devemos desviar o olhar do abismo... não seria este, precisamente, o momento do salto?
A doutrina da defesa do livre-arbítrio - uma paz entre os instintos, uma equação de valor positivo dos afetos - não era mesmo uma máscara para a ignorância de si mesmo? "Conhece-te a ti mesmo" quer dizer "deixe de ser interessante para ti mesmo"?
E aqui cabe a observação: não nos tornemos semelhantes aos monstros que combatemos [ABM, aforismo 146] - para tal, em determinado momento, devemos desviar o olhar do abismo... não seria este, precisamente, o momento do salto?
A doutrina da defesa do livre-arbítrio - uma paz entre os instintos, uma equação de valor positivo dos afetos - não era mesmo uma máscara para a ignorância de si mesmo? "Conhece-te a ti mesmo" quer dizer "deixe de ser interessante para ti mesmo"?
Aqui vai um microscópico testemunho de filiação ao partido dos que afirmam ser esta a inesgotável obra nietzscheana; o mais elevado atestado de estilo e gosto que a humanidade testemunhou até aqui.
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