Demorei quatro noites para digerir a refeição pesada em que me foram servidos meus afetos tristes, meus desejos incontidos, minhas frustrações; a mim mesmo, enfim.
Lembrei-me de um aforismo de "Aurora": tudo que é bom surge com má-consciência, pois é novo, ataca a tradição e por ela é atacado com ferocidade.
Pois bem: pendurei por sobre minha cabeça a minha própria lei; viver conforme a minha própria vontade, depurando-a.
Foram quatro noites em que minha autoestima duelava com minha autocrítica nas alturas - onde estão sempre, em camadas da atmosfera em que o oxigênio torna-se rarefeito. É bem difícil pensar muito na falta de ar: bem o sabem os que estão se afogando; dependurados na encosta de uma altíssima montanha; em uma aeronave despressurizadas; é preciso a sorte de ter a ideia certa o mais próximo possível de sua consciência e a força necessária para agarra-la.
Ambas, minha autoestima e minha autocrítica, possuem bastante fôlego.
Hoje tenho uma tarde leve; pois já carreguei umas tantas bem pesadas nas costas. Vou embora desse paraíso de volta pra minha nova casa, em cuja porta vou pendurar a insígnia dessa nova fase de minha vida: zelar pela abundância sem errar pelo excesso; ser muito e a cada dia mais; e ter somente aquilo que eu preciso, o que não é muito.
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