Vi uma imagem ainda há pouco que me causou um estranhamento profundo... De repente, me aterrorizava a questão: como pude elaborar durante tantos anos um tão terrível contorcionismo da vontade; envenenar e enturvar todas as fontes de onde brotam as minhas paixões? Talvez demore ainda muitos anos pra recuperar da atrofia a musculatura do meu desejo.
Essa consciência meio ruim é mesmo um sinal de que preciso medir - mensurar, pra ser mais preciso - de novo todos os afetos que experimento. Dialogar com uma multidão em silêncio, romper o mais desolado deserto. Mergulhar profundamente em mim mesmo, ainda mais.
Ainda hoje fui à praia do amor, onde o mar me oferece alguma resistência. Na falta de aparelhos de ginástica, quebrar ondas é um bom exercício de equilíbrio, de tônus abdominal, de fôlego. Ainda quero tentar exercitar minhas asas de chumbo, fazê-las me levar alto num vôo seguro. Todavia, não tenho tido oportunidades: minha vaidade tem se tornado a cada dia mais caprichosa; nem anseia mais se mostrar tanto! Os hodiernos me constrangem; meu orgulho, meu asseio, me impedem de dar um passo à frente. Sugestão? Dormir muito!
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