Uma palavra a favor do mais mecânico amor-próprio: quanta alegria há em saber dar prazer a si mesmo! Quantas transas eu não trocaria hoje - de uma mais madura perspectiva - por uma paciente e caprichosa masturbação. Quanto sexo feito com sono, cansaço, embriaguez, vergonha, vaidade e tantos outros desenganos... quanto sexo mal-feito, desonrando o sentido da terra! Melhor seria não tê-lo feito! A honra, que nos é comum e perene, nos impedia de regalar-nos ante os outros com tais experiências desmedidas da luxúria. A honestidade para conosco nos embebia em má-consciência... Melhor seria ter ficado em casa aquele dia!
Bem sei como sentem-se os casados, ou os que estão juntos há longo termo, ou os que têm demasiada intimidade e já enfastiaram seu paladar do sacarino (e ludibrioso) "conhecerem-se um ao outro": são como cães num canil. Uns vulgares, em eterno cio; outros, desditosos, já castraram-se a si mesmos. Uns satisfazem-se com a ração que lhes é oferecida sempre, têm horizonte restrito e contentam-se com pouco, falta-lhes imaginação, talvez; outros tremem o corpo inteiro quando lhes farejam estranhos e, assim que podem, correm desesperados de volta para o seu refúgio, e depois ainda latem desdenhando do seu próprio desejo pelo desconhecido; outro ainda transborda de anseio, está salivando o tempo todo, sempre à procura de algo novo que satisfaça a sua furiosa luxúria, quer seja por um instante: noutro momento ela voltará ainda mais intensa.
Um ladrão ardiloso que lançava peças de carnes nobres para distraí-lo a este último se aproveitava do momento fortuito para invadir aquela casa e furtar as joias ali guardadas, que por tanto tempo foram tidas como tesouro de família. Até que um dia não restara mais nada para roubar: foi se embora o ladrão e o cão, de hipertrofiado desejo devido à dieta a que fora posto, foge de casa em busca de novos sabores e texturas. Como apenas os cães, esses melhores amigos dos homens, sabem fazer, salta para fora do canil em que sua vontade e força eram meros instrumentos da vontade alheia e vai latir, uivar e revirar latas para satisfazer a sua própria, em um vir-a-ser cão selvagem.
Um ladrão ardiloso que lançava peças de carnes nobres para distraí-lo a este último se aproveitava do momento fortuito para invadir aquela casa e furtar as joias ali guardadas, que por tanto tempo foram tidas como tesouro de família. Até que um dia não restara mais nada para roubar: foi se embora o ladrão e o cão, de hipertrofiado desejo devido à dieta a que fora posto, foge de casa em busca de novos sabores e texturas. Como apenas os cães, esses melhores amigos dos homens, sabem fazer, salta para fora do canil em que sua vontade e força eram meros instrumentos da vontade alheia e vai latir, uivar e revirar latas para satisfazer a sua própria, em um vir-a-ser cão selvagem.
Este é um grande signo da liberdade, que antecipa muitos outros.
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