quarta-feira, 1 de julho de 2015

Vogelfrei

É preciso compreender a relação entre o tipo de terreno e o instrumento de voo: 
Existe o terreno mais inóspito; há também o céu de brigadeiro; os lamaçais e lodaçais e demais locais pantanosos; existem os que caem de paraquedas - não voam, saltam ao sabor do vento... Que aprendam a voar com quem daquele o faz pista de pouso! Que o salto o force a abrir suas asas!

Há areia movediça - mórbida fortuna: quem dela escapa não o faz sem o apoio de algo exterior a si próprio.

Há, todavia, aqueles que fazem sempre o mesmo voo baixo, de eterno reconhecimento, repousando sempre no mesmo campo, ao abrigo dos perigos do devir: posta-se perto demais destas pessoas e tão logo desaprender-se-á a voar. 

Não sou de me indispor com qualquer pessoa, por qualquer motivo: meus inimigos devem estar à minha altura. Daqui de onde estou o ar é leve e puro: quem o sentir, que ouça minhas palavras, igualmente leves e puras; meus timbres suaves e penetrantes. 

Ali embaixo o ar é pesado, cheio de chumbo e outros afetos tristes. Eu mesmo tive de desanuviar meu espírito para um voo calmo; descontaminar minhas asas até então repletas de partículas plúmbeas, com as quais voara até aqui: muito desejo, nenhuma vontade. Basta! Já era hora! Tive minhas turbulências, aprendi com as tempestades.

Só posso odiar o que eu amo profundamente. Só posso desprezar aquilo de que tenho profundo asco. E ser absolutamente indiferente àquilo que ainda não me fez mostrar os dentes - para que eu possa voar mais alto - trazer à luz o que está oculto; trazer à tona o oceano mais profundo.

Na proximidade do meu natalício, lanço o meu canto ao céu claro, sob uma lua cheia:

Obrigado pela vida e pela distância;
Obrigado pela minha filha e pela distância;
Obrigado pela ferida e pela distância;
Obrigado pela paixão e pela solidão; 
Grato, pois, sei: caindo, não passo do chão! 

Vogelfrei fliegt zum Licht
Fliegt mit Lese Nietzsche

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