Esse lance de canalhice tão despudorado do PMDB não me parece que irá
passar impunemente nem à esquerda, das marchas do dia 31; nem à
direita, das marchas amarelas com patinhos de borracha (que me perdoem a
simplificação... ao fim e ao cabo, me parecem demasiado semelhantes
ambos os pólos dessa falsa polarização de, fundamentalmente,
ressentidos). Estão ofendendo a inteligência. Nem a maior manifestação
da estupidez política poderia se sentir confortável nesse momento... ou
ainda estou sendo ingênuo?
Pode ser uma janela que a história
abre para sepultar esse cadáver, o PMDB. Não tão simples quanto parece,
pois, objetivamente, o PMDB é o maior partido do Brasil, com o maior
número de filiados - a figura do "despolitizado", "desinteressado", que
age em prol do "interesse do povo brasileiro", que não é nem de direita
nem de esquerda, que é "apartidário" (o PMDB é o partido, em stricto
sensu, de toda massa de apartidários) é a máscara do PMDB - observemos
seus líderes: são ligados às oligarquias agrárias, mas não apenas; são
os grandes operadores históricos, isso sim, das máquinas burocráticas do
Estado brasileiro (desnecessário afirmar a conexão genealógica, o
parentesco mesmo entre estes últimos dois grupos); em termos simples: é a
manifestação da burocracia corrupta e absolutamente desprovida de
lógica encarnada na gestão dos serviços públicos e empresas estatais do
Brasil, todo ele. Eduardo Cunha, um desprezível rato que há décadas
parasitando a burocracia do Rio, chegou, mafioso de esquina que é e
sempre foi, à presidência da Câmara dos Deputados, é o melhor exemplo
que temos no momento.
Desconfio que todo nosso edifício
burocrático, todo nosso sistema legal cartorial, regimes jurídicos
(privilégios de classe e de determinadas categorias) e et coetera.,
ruiriam junto com a ruína do PMDB; com a ruína da lógica do PMDBismo -
modelo de financiamento político, presidencialismo de coalisão, etc. Uma
pista que aponta para o apoio da OAB ao impedimento da Presidente - sem
mesmo a definição ainda de um crime de responsabilidade...
Do
lado do PT - que, tivesse honra (e já nos deu infindáveis provas que não
a tem), renunciaria e pediria eleições antecipadas ao TSE; tivesse
orgulho do tiro-pela-culatra que é a Dilma, faria um arranjo de governo
petista puro-sangue com os seus escudeiros (eles existem?) até o último
trâmite do impeachment - há quem queira ainda - e haja fé! - manter as
alianças, suportar as "correlações de forças" até o limite do irreal; há
quem queira um PT ainda mais canalha e servil para que, encenando
mudanças, tudo permaneça como está. Pois, temem (temer: é este o verbo
que, para tragédia da nação, anda mobilizando...) que o arranjo
sob sua tutela se dobre ainda mais "à
direita". Como disse, é pura questão de fé: nada tem menos lastro na
realidade, uma vez que o governo já enviou quarta-feira ao congresso
proposta indecente de destruição do serviço público, rechaçado até pela
CUT (Projeto de Lei Complementar (PLP) 257/2016); apesar de ser a mais
antiga mentira contada pelo petismo à classe trabalhadora, e de correr
mesmo o risco de se tornar verdade - não pelo fato de o PT ter algo de
"esquerda"; sobretudo porque não durará no governo tempo o suficiente
para destruir o que ainda há de direitos trabalhistas. Quarta-feira: que
falta de timing! Que falta de honra, que falta de orgulho!
[O
PT - e uso "PT" quase sempre de modo abrangente - padece do preconceito
ou age de má-fé: para eles, o problema do serviço público são os
"direitos demais" dos trabalhadores. Ora, que venham ser professores no
meu lugar!]
No fim das contas, tudo será como é e sempre foi: o
PT fará o que puder para manter sob a sua tutela a destruição das
condições econômicas da classe trabalhadora do Brasil, a adulação do
capital financeiro e do latifúndio.
As questões do impedimento
ou não da Dilma, para mim, já não importam tanto... Que venha o governo
golpista pós-Dilma. Tudo ficará ainda mais divertido!
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