"O estado de alma dos homens enfermos , a quem o sofrimento tortura por
muito tempo e horrivelmente, e que, apesar disto, não lhe obscurece a
razão, não deixa de ter valor para o conhecimento, abstração feita dos
benefícios intelectuais que toda profunda solidão, toda libertação
repentina e lícita dos deveres e dos hábitos trazem consigo. O
gravemente enfermo, encerrado de certo modo em seu sofrimento, lança um
olhar glacial fora de si, sobre as coisas: todos estes pequenos encantamentos
embusteiros que movem geralmente as coisas, quando o olhar do homem
saudável se detém nelas, desaparecem para ele: ele mesmo se vê inclinado
ante si mesmo sem brilho e sem cores. No caso em que tenha vivido até
então em uma espécie de visão perigosa, esse supremo desencanto pela dor
será o meio de se libertar dela, talvez o único meio.
[...]
Mas sentimo-nos confortados ao ver as luzes temperadas da vida e ao sair daquela luz terrivelmente crua, sob a qual sofríamos, víamos as coisas, olhávamos através das coisas.
Não nos encolerizamos se a magia da saúde torna a começar seu jogo; contemplamos este espetáculo como se estivéssemos transformados, benévolos e fatigados ainda. Neste estado não se pode ouvir música sem chorar."
[...]
Mas sentimo-nos confortados ao ver as luzes temperadas da vida e ao sair daquela luz terrivelmente crua, sob a qual sofríamos, víamos as coisas, olhávamos através das coisas.
Não nos encolerizamos se a magia da saúde torna a começar seu jogo; contemplamos este espetáculo como se estivéssemos transformados, benévolos e fatigados ainda. Neste estado não se pode ouvir música sem chorar."
(Nietzsche, "Aurora", excerto do aforismo 114).
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