terça-feira, 21 de junho de 2022

Resenha - "Sete Copas ou Espíritos Livres" (2020)

 Posto aqui esta resenha nunca antes publicada do meu álbum "Sete Copas ou Espíritos Livres" (2020). 

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Este é meu 26º álbum em 15 anos de música. Enquanto o anterior, “História da Música”, foi maturado ao longo de 10 meses em 2019, “Sete Copas...” nasceu entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Brotou do entorpecimento do meu espírito ao longo das jornadas vividas nestas últimas férias. Surgido da necessidade de falar — calar produz mau caráter, já ensinava o alemão — de questões urgentes, latentes em mim. É o primeiro álbum de uma nova fase de minha vida e retoma sonoridades acústicas que há muitos anos não apareciam nas minhas músicas. Inclusive, com um novo instrumento, o bandolim, que há muito eu pensava em adquirir para meu estúdio. Eu estava cansado da guitarra. Eu desprezo solos de guitarra. O “rock”, o que é? Essa “máscara” atrás da qual se escondem muitos dos canalhas hodiernos, muitos dos fascistas usam da sua virulência estética como símbolo de si mesmos e de sua crueldade. Portanto, que tenho eu a ver com o rock? Uso-o desde sempre para atacar aqueles que nele se escondem! Também neste álbum procedo desta forma em 3 ou 4 canções. Logo na sua primeira metade, que é já para afastar o ouvinte que eu desprezo. Esconder o desprezo: assim procedem os bons cristãos, lhes parece, como dizem hoje em dia, “belo e moral”. Que tenho eu com o cristianismo de qualquer espécie?! O meu ateísmo é instintivo e me surgiu ainda criança, antes dos 5 anos de idade, talvez. Que tenho eu a ver com estas moscas volantes? Meu faro afiado permite apenas que sinta nojo dessa gente, meu instinto para a saúde me impede de sentir “compaixão”, eu não “sofro com eles”, e se às vezes me falta sorte, eu sofro por eles... Os melhores dentre os que se dizem cristãos, aqueles a quem Nietzsche chamava de “cristãos puros”, uns poucos dos que são meus amigos mesmo, meu instinto psicológico perscruta sua intimidade, contudo, prefiro desviar o olhar. Sei honrar meus amigos e guardo recato das contradições que, ao fim e ao cabo, fazem parte da humanidade, não são privilégios dos cristãos. Quem for do meu tipo não precisará nem de paciência nem de teste de força alguma para alcançar a segunda metade do álbum, na qual como a abelha que produziu muito mel, distribuo da minha abundância e riqueza de espírito. Como sempre, escrevo e canto para mim e para os que me são semelhantes, os raros. Nunca acreditei que aquilo que sai da minha boca e dos meus instrumentos possa ser acolhido por qualquer ouvido. É um privilégio me escutar. É uma dádiva para qualquer um dos meus amigos me conhecer. Eu sou feito de ouro e sei retribuir todos os que se acercam de mim nesta vida, todos os que me oferecem sua companhia nas diversas sendas trilhadas, nas diversas jornadas e batalhas, cuja duração varia entre alguns meses ou anos, seja no trabalho ou nas dimensões privadas da minha vida. É a estas pessoas, este círculo bendito de privilegiados, a quem dedico este álbum. Ouçam-me amigos: sois espíritos livres como eu? Sois capazes de atravessar este presente horrível, esta noite escura, estas trevas? Pois bem: logo ali na frente uma nova aurora se anuncia. Esta é a lei universal. Ainda aguardo por ecos, estou farto de elogios, sei fazê-los a mim mesmo. Onde estão, amigos? Parece-me que ainda ontem “perdi” um amigo. Será possível que se perca aquilo que nunca tivemos? Não acredito nisso. Em verdade, vos digo: o tempo é um filtro que seleciona os melhores. Longe de mim todos os que claudicam com suas necessidades, todos os lamuriosos viciados que se perderam em seu egoísmo e covardia! E se o inverno vem me visitar, eu não o desonro, mas me esquivo de sua fria inveja! Quero que se me acerquem quem for melhor que eu para que eu possa os imitar e aprender as suas habilidades de espírito. Quero aprender a amar mais profundamente, a odiar mais profundamente, a ler mais profundamente, a escrever poesias mais belas, a ser mais belo eu mesmo, o mundo já está cheio de coisas horríveis, a cantar melhor, a compor melodias mais delicadas e belas, a ser mais forte e mais saudável. Com este voto finalizo este pródromo, amigos: que façamos da vida uma experiência de beleza e força, saúde e coragem!

 

Juliano Berko, fevereiro de 2020.

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