Há um aforismo no "Além do Bem e do Mal" interessantíssimo para analisar - por analogia - aquilo que, com algum desgosto, ainda chamamos de esquerda do espectro político hoje:
"Não o seu amor ao próximo, mas a impotência do seu amor ao próximo é que impede os cristãos de hoje de nos - queimar" [104]
Os cristãos - o poder de características cristãs enraizado na estrutura das sociedades -, por séculos atacados pelas ondas seculares, com o advento da modernidade - em que a obrigação da cristandade tornou-se uma ofensa indefensável - não mudaram de "opinião" acerca de si mesmos, mas, deveras, têm certa vergonha dessa opinião e não mais agem com tanta truculência e estupidez para defendê-la.
O que é a esquerda hoje? São meia-dúzia de estúpidos que, não fosse a vergonha da tragédia que experimentaram no século XX; não fosse o rídiculo fim da União Soviética - cujas empresas públicas foram vendidas a preço de banana para grupos corporativos ocidentais, em parceria com o capital russo, dos burocratas -, ainda nos fuzilariam - a nós, os espíritos livres, questionadores, que não pensam igual e que, ainda mais, se recusam a pensar igual - em praça pública, cheios de um estúpido orgulho.
Ah, quantas questões Nietzsche antecipara há 130 anos! Como diz o próprio tradutor no posfácio, é um livro inesgotável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário