sábado, 23 de maio de 2015

Espíritos Ígneos

Quero ela como a Terra quer o Sol: pleno de anseio de vida. Ela, porém, precisa ainda enternecer. É ainda carvão verde, falta-lhe ainda estar em brasa viva e fumegar; e fumegará por muitos anos, pois que é mais encorpada que eu e, portanto, queimará mais lentamente. Eu, que sou ígneo e esguio no espírito, já estive em brasa viva, sentia-a por sobre a pele e não há muito!, e minha chama ardeu como uma explosão solar luzindo o céu e tal velocidade me causou vertigem; fui sol e agora sou estrela-anã, sei esperar e esquecer, mesmo que ainda lance aos sete ventos minha fumaça - pura vaidade ferida, cheia de orgulho! Quem sabe algum dia possamos arder juntos a chama que a faísca do nosso encontro deu a ignição, liberando todo nosso calor, úteis ao sentido da Terra! Não há garantias de que isso venha a ocorrer, todavia - e é melhor que assim seja!

"Ó, como não haveria eu de me encontrar ardendo pela eternidade e pelo nupcial anel dos anéis - o anelo do retorno!
Jamais encontrei, até agora, a mulher com a qual gostaria de ter filhos, a não ser esta mulher que eu amo: pois eu te amo, ó eternidade!
Pois eu te amo, ó eternidade!
"
["Os Sete Selos", Assim Falou Zaratustra, Nietzsche]

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