quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

(Alg)uma (nada) breve história sobre Juliano Berko

Atenção!: Post autobiográfico. Quem tiver problemas com autoreferências alheias (assim como eu!), pode passar pro próximo texto e aproveita pra baixar o "Futuro, Adeus!". 

(Alg)uma (nada) breve história sobre Juliano Berko.

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Se eu colocasse pra tocar ininterruptamente todas as minhas 180 canções gravadas (tenho ainda algumas por gravar) neste exato momento, 2:26 da manhã, apenas amanhã, por volta da 1 da tarde, a lista seria finalizada no player. São pouco mais de 1 hora de música pra cada ano nestes últimos 9 anos, desde 2004 portanto. 
 
Nesse tempo, apesar de nunca ter tido uma banda formalmente falando - com integrantes que ensaiam regularmente e constroem um projeto coletivo (o que eu sempre quis) - inventei a minha própria, na qual escrevo, componho, toco e gravo tudo sozinho: Concreto Armado; e segui o meu caminho como artista individual, me "libertando" da minha fixação estética do início, partindo pra voos mais altos, trilhas mais distantes. 

Lembrando dos meus passos, ponderando sobre o tempo, me dou conta agora da influência que teve o ambiente no qual eu me iniciei na música - a escola. Apesar de 1) ter começado a ler as teorias musicais naquelas revistinhas de cifras musicais um ano antes de ganhar meu violão, em 2003 (10 anos!!!), 2) de eu ter ganhado o violão da minha mãe como presente depois de muita insistência (um ano pedindo. rsrs) 3) e ter tido dois meses de aulas particulares em casa, uma vez por semana, foi na escola, junto dos meus amigos que também tocavam que, nos turnos inversos, principalmente nos dias de prova (à tarde, as aulas eram de manhã), o desbravar do universo musical através do violão ganhava mais sentidos.

O nosso então professor de Geografia e diretor do colégio ("Campus"), Gilberto ("Ligeirinho"), nos via sempre a tocar nos intervalos e horários livres e muito nos motivava, pelo que posso recordar. Ele chegou a organizar um show nosso no parque Vaca Brava, para o qual ensaiamos um repertório cover e estávamos todos empolgados. No dia marcado choveu e o palco não tinha proteção, ficamos sem tocar... Em um dado momento, no 2º ano, cheguei a compor especificamente para uma apresentação nossa (Eu, Fabiano e Diego, dando nome aos bois) numa semana de temática ambiental. O resultado, uma cançãozinha a qual chamei "As Florestas e o Cerrado", apesar de ter sido feita meio na brincadeira e não ter ficado completamente ao meu gosto ainda na época (depois da apresentação tentei mil versões que me satisfizessem), hoje vejo como foi importante no desenvolvimento do que se poderia chamar de uma técnica de composição. Vejo como aquela oportunidade foi importante pra que eu pudesse seguir adiante.

A experiência no Campus finda no meio de 2005 por impedimentos administrativos e, por influência do próprio Ligeirinho, uma parte dos alunos foi para o COC, um dos "grandes" colégios da época, onde eu tinha uma bolsa de 82% (nunca esqueço o valor na mensalidade...). Ali, um universo de classe média mais alta, eu me sentia O peixe fora d'água, sem Nike Shox no pé e Ipod no bolso (um minuto de silêncio pra todos pensarem no que esses bens de consumo representavam em 2005...). 
Assim, me filiei informalmente ao grupo dos "peixes fora d'água", em que conheci o meu maior parceiro até hoje, Tarcísio Miranda Pereira, porém, nossas parcerias começariam apenas no ano seguinte. Do resto desse ano lembro pouca coisa mais marcante (talvez apenas de uma colega gatinha... gatíssima, "Gabriela Alguma Coisa", passando a mão na minha bunda na fila do lanche. Mas não vem ao caso agora).

No ano seguinte, 2006, finalmente comecei a me sentir mais integrado no ambiente, e passei a tocar e trocar mais ideias com o Tarcísio e o Thiago, principalmente. O COC naquele ano iniciou um projeto "quinta cultural", se não me engano, em que toda quinta-feira ia um mesmo músico que abria o recreio tocando alguma coisa no violão, num palco com microfone, e depois passava pra quem quisesse, dentre os alunos, tocar outras canções. Lembro de tomar coragem e subir no tal palquinho e tocar, na primeira vez, "Núcleo Base", do Ira!. Como eu fiquei mal acostumado, toda quinta eu subia no tal palco pra tocar pelo menos 2 músicas. Muita coisa dos Titãs na época. Só em 2009 eu fui lembrar da sensação de subir num palco! É elevadora, excelsa. É por isso que todo mundo a toma de forma ritualística... (Até me lembro do mantra que eu repetia pra mim mesmo nos bastidores do FINCA... mas deixa pra lá).


No fim do ano, presto vestibular pra Medicina na UFG (simplesmente pra não passar... Tivesse escolhido Direito, minha nota na primeira fase me botava dentro do ponto de corte e talvez eu não estivesse aqui hoje, desesperado com um diploma que eu não sei ainda pra que serve, digitando estas linhas, mas em algum escritório de advocacia goiano ganhando muito $). Presto também pra Geografia na UnB, minha escolha autônoma, já que minha mãe chiou no vestibular da UFG pra que eu fizesse ou Direito ou medicina. Nesse vestibular eu passo, porém, perco o prazo de fazer o registro na UnB, uma vez que ninguém na minha família se dignou de me hospedar em Brasília. Fico em Goiânia e acabo fazendo um cursinho pré-vestibular qualquer, só pra passar o tempo. Esse período só prestou pra que eu me divertisse com o pessoal do cursinho (cheguei a compor "A Moda", que é uma música muito legal também, com o Ricardo) e me apaixonar um pouquinho por olhares sedutores em algum Pub...

Só vim pra cá fugido, no ano seguinte, depois de uma confusão com ameaças de morte (baixaria total...) com vizinhos do prédio... Aí a tal família se dignou. Fiz o vestibular (2º/2007) e passei de novo. E passaria quantas vezes quisesse, diga-se de passagem. Nesse período, eu desistira de montar uma banda de rock e, com um gosto muito amargo na boca, "aposento" minha guitarra, e passo a investir numa leitura mais lírica do violão e me declaro poeta. Foi quando fundei este blog, diga-se de passagem também. Deste período, apesar de triste, guardo as melhores recordações, e algumas belas canções (que me são aprazíveis, uma vez que eu componho pra agradar um impulso pessoal, primordialmente).

Em 2008, participei de um concurso de canção do SESC, influenciado pela minha companheira de (até) hoje e sempre, Maíra, mas não dá em nada (isso não é novidade e ainda se repetirá algumas vezes nesta história...). Naquele ano eu quase não compus música. Escrevi algumas coisas, mas, no geral, produzi muito pouco em comparação com 2006/7. 

Em 2009, de tanto ser chato com meus colegas de curso, consigo a assinatura do Ricardo, então representante do CA de Geografia, pra concorrer por ele no FINCA, o festival de música interno da UnB. Como eu havia imaginado no ato da inscrição de tocar sozinho, na voz e violão, eu inscrevi as canções que eu pensei mais se encaixarem neste formato, que foram "Pra Ser Verdade", uma das minhas melhores até hoje, e "O Pôr do Sol, II", uma parada meio pop meio folk que, com a banda, ficou mais pra rock-balada, o que, de certa forma, deixou ela menos "Bob Dylan - It's All Over Now, Baby Blue" e mais "Engenheiros do Hawaii - Negro Amor". Depois de me inscrever, procurei apoio de outros músicos, também amigos do curso, no caso, Klebiston, que também passou no 1º vestibular que fiz e o Vitor, que passou no mesmo vestibular que eu. Ambos são ótimos músicos e ensaiamos apenas uma vez pra tocar no festival. De todo modo, o anf 9 lotado de gente da Geografia, gritando "gatinho" pro Klebiston, sentindo o bumbo do Vitor me jogando pra frente, minhas pernas bambas, boca seca, o coração irremediavelmente veloz, o tempo infinito no que deve ter durado uns 10 minutos, foi uma das experiências mais gratificantes dessa minha passagem na Terra, mesmo com os meus erros no baixo. Como eu imaginava, não passamos pra fase final. Pondero que tanto as canções não eram lá essas coisas (apesar de "Pra Ser Verdade" ser bem legal) quanto o juri desse festival não é muito chegado num rock, quanto nossa performance de palco, no geral, não foi a melhor, quanto por questão de sorte, não fomos escolhidos pra segunda fase. 

Do FINCA, o que mais ficou marcado e que me incomodaria por um bom tempo foi o não prosseguimento daquela banda. Eu sou um ateu meio desbocado, morava na asa sul; o Vitor morava na asa norte e nunca me deu bola (inclusive, uma vez, no nosso primeiro semestre, fiquei muito puto com ele porque ele só sabia zoar o meu sotaque! Não sabia dialogar comigo, mas sabia zoar meu sotaque goiano, nada mais brasiliense que isso); o Klebiston é um puta guitarrista, mas tem seu comprometimento com sua Igreja e mora no Gama... Tinha tudo pra dar errado. E deu. Mas poderia ter dado certo...

Outra coisa que eu vejo hoje é como o festival marcou uma nova fase. Os meus melhorres trabalhos vêm sendo feitos desde o final de 2009. Inclusive, "Hallow Evening" eu compus na noite daquela final. Eu não fui, fiquei em casa o dia todo lendo sobre coisas aleatórias na internet e, no fim do dia, fui tocar guitarra. 

Tivesse participado do festival em 2012, iria de "O Que Se Quer" pra começar o show e "Anéis" pra concorrer pelo prêmio. Duvido que me barrariam na primeira fase. Mas duvido com convicção.
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Sobre 2010/11/12, posso escrever outro dia, pois, escrevi isso tudo aqui em uma sentada de mais de uma hora e amanhã preciso estar às 13 horas em Taguatinga. Escrevi isso tudo pra tentar tirar de mim a sensação de tempo jogado fora. Não sei se consegui, ainda tenho 8 horas de músicas pra ouvir.

Recentemente, venho assinando o "Berko" no lugar do Berquó, que é um nome de origem francesa, linhagem de um nobre diplomata instalado nos Açores e migrado ao Brasil no século 18. Linhagem de nobre? Prefiria que essa nobreza toda tivesse ficado na guilhotina. E os povos indígenas e os povos da áfrica que, eu sei por genealogias familiares, também fazem parte dos meus genes? Como posso levar pra frente a ideologia do império na assinatura da minha arte? Deste modo, subverto essa lógica e (re)invento também meu próprio nome. 

Por hoje é só.

Um comentário:

Anônimo disse...

Saudades. E sinto falta do Tarciso também. Mas o tempo não foi jogado fora. Por nenhum de nós.