domingo, 13 de maio de 2018

"Espelho, espelho meu, existe alguém mais sensível do que eu?"

1. Muitos desinterpretam a defesa da hierarquia feita por Nietzsche. Esquecem ou omitem ou desconhecem que no topo da hierarquia, para ele, está quem é mais sensível à dor, quem sofre mais profundamente. Logo, não é uma defesa de um tirano bruto, mas de um líder empático.

2. Da mesma forma, ele defende a imprescindibilidade de alguma forma de escravidão: para dar aos brutos e estúpidos o seu devido lugar, para que eles sejam úteis, ganhando, assim, o direito à existência. Sendo que a inversão destes papéis na sociedade não é nada mais que sinal da corrupção ou, em linguagem física e não moral, degeneração dos instintos.

3. Logo, ele toma o partido da nobreza. Mas, não da nobreza de direito, por assim dizer ("não daria ao imperador o privilégio de lustrar minhas botas" ele diz em seu "Ecce Homo"), e sim de uma nobreza de fato, que domina a si mesma e aos seus afetos, de instintos mais puros, sensibilidade refinada, etc. Daí podemos fazer elucubrações diversas: este homem de nobreza superior, que ainda não existe, é a "alma do homem sob o socialismo", o "homem novo", de um certo-mundo-pós-alguma-espécie-de-revolução. Nietzsche é um "revolucionário", num sentido lato: está ciente que participará, ainda que indiretamente, de uma monumental colisão de consciências por vir. Um "guerreiro", com toda certeza.

4. O instinto democrático seria o resultado da mistura de sangue das diversas "castas" ao longo dos séculos, cujo resultado será uma eterna contradição, que tende ora para uma hipócrita liberalidade, ora para uma tenebrosa tirania. Dito isso: não há censura alguma à mistura de raças, ele toma isso apenas como constatação; partindo daí para um aprofundamento das variações de tipos humanos. O nazismo querer elevá-lo à condição de mentor teórico é uma desonestidade histórica triste que nunca descansaremos de lutar contra!

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