domingo, 1 de abril de 2018

O Pathos de Cristo, Um Prometeu Invertido

1. A confusão da linguagem como marca deste nosso tempo [este triste e pobre tempo... em que nem todos são tristes e pobres: há abundantes alegria e riqueza de espírito — para os raros!]: as coisas e os fenômenos nem sempre são chamados por nomes que exprimem aquilo que eles efetivamente são

2. As grandes religiões, o que as diferem dos sistemas de crenças e ritos dos povos tribais, das pequenas, dispersas e extremamente diversas seitas que ainda povoam o mundo? 1) A necessidade de organização da psiquê das massas, de modo que minimamente se compreendam ("comunguem") em relação aos seus afetos; 2) a construção de uma normatização e padronização do comportamento social a partir do condicionamento psíquico e do exercício e ensino de uma determinada moral; 3) os mitos — descrevendo e narrando as experiências típicas de diversos arquétipos — reduzidos a uma interpretação, uma exegese pré-estabelecida e acordada entre os poderosos de dada sociedade; 4) interpretação esta que será objeto de constante e minucioso exame [O que são as faculdades de teologia? A hierarquia de poder do império erigido pelos católicos?] — é preciso que haja de tudo no espírito humano, menos fé, para se debater as minúcias dos sacramentos!; 5) cumprindo, enfim, a função de aprisionar a experiência mística ao contexto político dos sacerdotes. 

3. Uma geografia da religião: Quem afirma, hoje, que um culto de qualquer que seja o credo, ou mesmo que o hábito da frequência aos eventos religiosos  "religa" as pessoas? Em cada contexto, isto serve, isso sim, para tornar as pessoas 1) gado dócil e estéril aos filhos da  miséria material extrema (o sacerdote como toureiro e emasculador); 2) toleráveis umas às outras aos ascendidos (e descendidos) à média material e cultural de uma sociedade (o sacerdote como juiz de paz); 3) e, por fim, autoindulgentes à elite econômica que, completamente ciente do profundo mal estar que causa na sociedade como um todo, sente-se, assim, regozijada em crer que o mundo deve mesmo girar ao seu redor (o sacerdote como psicólogo — sempre muito bem pago!). Logo se vê que há um espaço e um tempo para a religião, seja ela qual for, sempre adequada à ocasião.

4. O que é uma igreja? Uma fábrica de produzir mistificação da realidade fática e embotamento dos simbolismos arquetípicos. 

5. Quem é o sacerdote? Um mitômano invejoso, quando não com profundo ódio — de nós, os espíritos livres. Bem sabemos disso! 

6. E quantas vezes nos acorrentaram no Cáucaso pra expiar esse rancor da vida? Orgulhosamente acorrentados à rocha, louvamos à verdade e a vida. Ou, para falar na língua franca, em quantas cruzes já não nos pregaram? Quanta sibéria, silêncio obsequioso, masmorras de castelos e porões de ditaduras? Findo o sofrimento, dele sempre renascemos: esta é a boa-não-tão-nova verdade que vos digo; dela são raras as testemunhas, somente uns poucos e bons amigos — que sobre ela saibam guardar segredo: assim se mantém mais pura a fonte de todo espírito

7. Toda vez que eu roubo algo dos deuses para dar aos homens — o mesmo caminho faço com algo que roubo dos homens para dar aos deuses. Assim no céu como na Terra.

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