sexta-feira, 9 de março de 2018

Realismo Como Rendição ao Idealismo dos Poderosos

Pelo direito de não sonhar o mesmo sonho — Até que ponto o "realismo" não é, ao fim e ao cabo, apenas um signo orgulhoso com o qual batizou a si mesma a rendição ao idealismo dos poderosos? Também os seres humanos mais monetizados, para não dizer ricos; mafiosos, para não dizer líderes políticos do status quo, raramente são outra coisa que não indivíduos articulados com outros de interesses afins, padecendo de visões estreitas, falta de imaginação, afetados por covardia, vaidade, oportunismo, etc. Este é o verdadeiro realismo: política é a arte da guerra pelo direito de cada qual organizar a sociedade de acordo com o seu sonho. E a cada qual agradam sonhos diversos: os brutos e toscos, sonhos de uma ordem militar total da sociedade; os pequenos e fracos, uma democracia dos pequeninos interesses; os suaves e modestos, uma aversão solitária ao estado e ao mercado; os de sofrimento profundo, de profunda sensibilidade e inteligência mais afiada, que amam não o que o ser humano é, mas o que ele pode vir a ser, abraçam a vida na sua total frugalidade: querem tudo e que o "tudo" possa ser para todos, de modo que possamos elevar a percepção dos que não possuem aquelas nossas características ao nosso nível da compreensão da "realidade", às nossas regras do jogo, uma jubilosa beleza como ideal de sociedade que educa para a liberdade — em uma última palavra: os raros sonham os sonhos mais raros.

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