2. Sonhei que estávamos, eu e Letícia, a caminho de um clube, era
fim de semana, as ruas estavam vazias e o clube deveria estar cheio. Fomos de
metrô e ao sair da estação eu acabei tomando um caminho diferente dela, soltei
de sua mão e fui na frente, caminhando por algum lugar onírico que, refletindo
agora, se assemelha um pouco com os arredores do parque de Águas Claras, quando,
então, eu me apercebo já de sunga e sem sinal dela por perto. Nesse momento, eu
levo à mão ao bolso na intenção de pegar o celular para ligar pra ela, mas,
“lembro” que já estava de sunga e deveria ter deixado a roupa na bolsa dela.
Ainda sonhando, “acordo” e desperto ela ao meu lado na cama para perguntar onde
ela estava! Ela me responde: “É só um sonho, eu estou onde você quiser que eu
esteja!”. “Ah é!” — penso eu, e retomo a narrativa principal. Pois bem: se fomos
de metrô e ela está grávida e vai a passos mais lentos, me basta apenas refazer
o caminho que fiz até aqui que nós nos encontraremos. E não é que deu certo? Eu
a encontro caminhando lentamente numa calçada, com apenas um pé de calçado,
mancando, mas, tranquila. O momento em que meus olhos passam a vista sobre ela é
o momento em que a sua curvilínea figura me enternece; eu pego o outro calçado
dela que estava pela rua e a ajudo a coloca-lo de volta, assim continuamos nosso
caminho de mãos dadas até o clube, onde eu espero nadar!
3. Por fim, desperto
suavemente emocionado do sonho e me viro na cama para beijá-la e à sua barriga
onde Athena nada loucamente no seu líquido; beijo também seu cangote e ela
desperta me dizendo que minha respiração “parecia o mar” no seu ouvido. Essa
figura poética me cativou!
4. Minha coragem, meu "eu-lírico", me leva além: ela
é tanto inocente desatenção a alguns perigos quanto consciente desprezo por
outros. Ela me faz acessar muitos lugares: montada sobre minhas pernas,
cavalgando sobre meus ombros, minha coragem me leva aonde eu quero ir. Ela me
abre muitas portas e também bate muitas outras ao sair. “Se eu não temo nem a
mim mesmo, como poderia haver algo no mundo que eu tema?” e lá se vão minha
coragem de mãos dadas com minha curiosidade vagarem pela vida. Minha coragem é
minha virtude e toda virtude tende à estupidez... “Minha coragem” é minha maior
loucura.
5. Todo símbolo é um devaneio do espírito... Quem interpreta símbolos
“do so at their peril” como diria Wilde. Um dia fui obcecado com a ideia da
interpretação dos símbolos, “o que poderia haver de tão “profundo” ou “secreto”
em alguns?”; a primeira e única psicóloga com a qual lidei como paciente
(impacientemente... como sempre me pareceu inoportuno e pueril exercício da
imaginação toda a psicologia!) era junguiana... Hoje acho tudo isso uma grande
bobagem, um misticismo refinado com verniz científico. Interpretar as pessoas é
até muito fácil: a imensa maioria é muito óbvia na vulgaridade da sua
existência; algumas são cobertas de camadas e máscaras, mas não deixam de ser
previsíveis e consigo contar sua história, inclusive, o seu futuro, apenas acessando
alguns dados básicos de sua vida. Mais difícil sempre foi interpretar o mundo,
como são construídas as relações que produzem a vida material; todos os
elementos objetivos e subjetivos, históricos e geográficos, políticos e
fisiológicos que influem naquelas relações e como essas relações podem mudar e
fazer surgir novas formas da cultura. Acabei de descrever a ciência que leciono?
Que bobagem! Por fim, nada se compara às “questões primeiras e últimas” nas
quais se detém o filósofo do futuro: sigo no caminho trilhado por ele. E me
detenho apenas onde ainda há promessa de algum futuro. Como me ensinou
Zaratustra: “onde não for possível amar deve-se passar ao largo!”.
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