Em Goiânia está meu passado
Quase mais pesado
do que sou capaz de agüentar.
Eu estou sempre mudando.
Atento, quase sempre;
Nunca mudo.
Em Brasília está meu presente físico
Em partes, em muitas faces.
Meu espírito se eleva, flutua e expande
(Mande-me notícias e beijos, meu amor.)
Minha mão direita eu deixei
Enterrada a margem do asfalto
de algum dos quilômetros da Avenida T-9;
Minha mão esquerda toca e acaricia a terra
E o rosto dela,
Apóia meu queixo agora;
A força de meus braços
À cada braço que se sustenta
Nos ônibus às seis da manhã;
O equilíbrio das pernas
(sempre foi pouco)
Eu deixo aos loucos
E aos que nada tem;
A angustiante busca por horizontes
Nas turvas águas do Rio Meia-Ponte;
No alto da Serrinha,
As minhas retinas;
E o meu coração
Pulsa
aqui dentro
Ainda que siga pela tangente
Os olhos dela nas esquinas.
"Dedicado ao Homem só
seja ele quem for,
esteja onde estiver."
nº2
"Esse alheamento do que na vida é porosidade
vem de GOIÂNIA e suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes."
(Adaptação de 'Confidência do Itabirano';
Carlos Drummond de Andrade;
Autor dos livros que me renderam multas
por atraso na entrega na biblioteca da Unb)