quinta-feira, 28 de maio de 2015

Anedotário II

Num gesto brusco, descuidado, já derramara café no meu teclado e mesa inteiros... hoje foi o vinho, mas, quem diria?!, do susto me sai um riso, uma ode à Dionísio, e pulou de mim um verso e termino agora a última letra que faltava do meu próximo álbum!

Este, chamar-se-á "Iñaron". O irmão dionisíaco do apolíneo "Além de Mim" (2014).

segunda-feira, 25 de maio de 2015

O Convalescente

- Eu ascendo aos céus novamente, sou o convalescente!

Um dos meus melhores poemas em inglês. O curioso de escrever numa língua estrangeira é como se usássemos, pois, máscaras, como fosse um elemento cênico, uma cortina ou um véu sobre o que se quer dizer. Já dizia Nietzsche (Aforismo 544 [Meio-saber], "Humano, Demasiado Humano"):

"Aquele que fala pouco uma língua estrangeira tem mais prazer nisso do que aquele que a fala bem. O prazer está com os meio-sabedores."

The Convalescent

I tried to fit in the husband shape
And ran before I couldn’t escape
I could not hide how I was scared
Despite, grateful for the time we’ve shared
I know well how affection is scarce
But I could not stand with that farce
I’m back off the rail track so now I’m free
Farewell, I’ll try to be me!

I ascend to heaven again! Oh, how lucky I am!
I descend with the sense of the Earth! Oh, I rebirth!

I went beyond my alma mater
I overcame the sun, my father
When I work with concentration and focus
I can reach nature’s magnum opus
I burnt my mouth by kissing those lips
And became full by grabbing those hips
I worship goddesses: don’t take me wrong
I’m a mess and this is not my tongue

Now that I’m nurtured I can sow my seed
Who would dare to drop my speed?
I raised my sword and cut off the curse
Knew the word and wrote the verse
Tempered with the fire of the will to power
Dressed in red to light my desire
My heart sings gently and tells me thus:
Can you see? “Alles ist im fluss”!


"Alles ist im fluss" ("Tudo está em fluxo", tudo passa, "panta rei". Nietzsche em "Assim falava Zaratustra".)

sábado, 23 de maio de 2015

Espíritos Ígneos

Quero ela como a Terra quer o Sol: pleno de anseio de vida. Ela, porém, precisa ainda enternecer. É ainda carvão verde, falta-lhe ainda estar em brasa viva e fumegar; e fumegará por muitos anos, pois que é mais encorpada que eu e, portanto, queimará mais lentamente. Eu, que sou ígneo e esguio no espírito, já estive em brasa viva, sentia-a por sobre a pele e não há muito!, e minha chama ardeu como uma explosão solar luzindo o céu e tal velocidade me causou vertigem; fui sol e agora sou estrela-anã, sei esperar e esquecer, mesmo que ainda lance aos sete ventos minha fumaça - pura vaidade ferida, cheia de orgulho! Quem sabe algum dia possamos arder juntos a chama que a faísca do nosso encontro deu a ignição, liberando todo nosso calor, úteis ao sentido da Terra! Não há garantias de que isso venha a ocorrer, todavia - e é melhor que assim seja!

"Ó, como não haveria eu de me encontrar ardendo pela eternidade e pelo nupcial anel dos anéis - o anelo do retorno!
Jamais encontrei, até agora, a mulher com a qual gostaria de ter filhos, a não ser esta mulher que eu amo: pois eu te amo, ó eternidade!
Pois eu te amo, ó eternidade!
"
["Os Sete Selos", Assim Falou Zaratustra, Nietzsche]

Aprendizado Com a Experiência

Algumas pessoas escolhem a carreira de professor pela possibilidade de reeditar sua vivência ginasial e exercitar seus gracejos e outras opressões, ora para com os alunos, ora uns com os outros. Outras, como os espíritos livres, talvez escolham justamente pelo o contrário.

Calendário Venturiventiano

Janeiro: Os dias mais bonitos; o céu mais que azul
Fevereiro: Os dias mais ensolarados; alegre conhecimento da vida
Março: Belos dias tristes: o fim das férias
Abril: Triste mudança do tempo; infecções respiratórias
Maio: Magníficos crepúsculos bronzeados, noites gélidas
Junho: Dias de tênue azul, ventos frios e secos ressecam a vista
Julho: Gélido céu estrelado, apaixonadamente e distante do sol, a Terra ainda gira
Agosto: Dias mais quentes e não menos secos, dias para piscinas e onde mais se puder nadar
Setembro: Dias quentes e névoa seca sobre toda a cidade, dias para a esperança
Outubro: Chuvas apaziguadoras, dias mais quentes do ano, a natureza verdeja, dias para parques
Novembro: Chuva em 28 dos 30 dias do mês; neblina na aurora, dias para ver a chuva da janela
Dezembro: Dois dias de sol para cada dia de chuva, quase tão belos quanto janeiro.
E, de tanto anseio por beleza, a natureza nos manda de volta para lá!

"Under a summer blue sky I decided not to die"

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Um Fardo Opressor

Ser professor nas condições atuais, no nosso espaço e no nosso tempo, ao menos para os assim chamados "espíritos livres" - dentre os quais modestamente me incluo - não se configura outra coisa que não um fardo opressor. De modo que é perfeitamente verossímil a seguinte anedota:
Duas pessoas que se desconhecem acabam de ter-se uma com a outra. A primeira pergunta "o que você faz da vida?", no que a segunda responde, zombeteira, "um fardo opressor!". Pensando titubearem seus ouvidos, aquela pergunta em seguida "você é professor?". "Sim...", responde aquele, com maldosa autoironia.