domingo, 15 de março de 2015

SOBRE OS ATOS DE HOJE

Brasília, 15/03/15

1) O NACIONALISMO desse pessoal deles me opõe frontalmente e nos distancia anos-luz. O que pode representar o apelo nacionalista, senão, no fundo, mesmo que inconscientemente, ódio de classe? Porque o Brasil desse pessoal não é o mesmo dos favelados, dos índios, dos quilombolas, dos serviçais que pululam em todo o canto de nossa economia, suspeito. Mais além: porque o nacionalismo é importante? Em que medida isso é necessário para a psicologia de um povo? Nós, aqui deste lado, ainda mantemos acesa a chama do internacionalismo, da defesa de toda a humanidade, e penso ser esse um valor que não se deva desprezar.

2) O APELO À RESTAURAÇÃO DA ORDEM: Bem, devemos enxergar a classe que viu interferência na sua ordem de privilégios: a classe média, fundamentalmente. Porque para o grande capital, lucram "como nunca antes na história do país". Para as classes trabalhadoras de estrato de renda mais baixos - acesso à crédito e facilidades de consumo que ampliam o horizonte do desejo de ascensão política e econômica - aqui está a chave do Brasil hoje. Não tem como voltar atrás!
É compreensível o mal-estar da classe média. Tantos de nós aqui, amigos, também não nos encontramos nesse estrato de renda e sentimos as mesmas consequências econômicas? O problema é que nossa crítica não passa pela "restauração", mas, sim, pelas VERDADEIRAS transformações econômicas, que, sob a tutela petista, são simulacros de mudanças vergonhosamente tímidas! E que por elas paguem os PEIXES GRANDES - aqueles que financiam campanhas, que regulam a balança comercial - e não a classe média assalariada apenas, que, ao fim e ao cabo, não é nada além de um monte de gente devendo a vida - casa e carro - aos bancos. Esse pessoal, a história mostra, vão com os ventos da economia para onde quer que elas os leve.

3) O DISCURSO DE ÓDIO não apenas ao PT, esse cristo pregado de hoje, mas a todos os que não lhes parecem similares. Assim, não há debate guiado pela racionalidade, pela discussão OBJETIVA de problemas nascidos no espaço COMUM, políticos e econômicos. E também tantos de nós, na esquerda, não conseguimos nos estabelecer prontos para um debate? Quantos grupos de esquerda não são apenas estética sectária? Aí reside um outro fundamental problema: a comunicação - paradoxalmente - na era das redes. Capturados pelo facebook - onde falamos com espelhos, imaginando multidões -, no cotidiano dos espaço públicos de convívio, no trabalho, escolas, etc., como anda o nível das conversas?

4) O DISCURSO RELIGIOSO entremeado ao discurso "político". Em que momento e lugar na história isso contribuiu para a construção de uma silhueta de democracia, que fosse? Que os deuses nos ajudem nesta cruzada!

5) A DIVERSIDADE de opiniões dos vários grupos que se colocaram reivindicando os atos do dia 15/03 é, talvez, o único ponto positivo. Apesar da minha discordância fundamental, aí reside outro ponto chave para o desenvolvimento da política, para retomar o bom debate. Nem todos são golpistas fazendo elogios à ditadura militar, nem todos são obtusos cheio de ódio. Nem tudo está perdido.

Como disse antes, a política petista é objetivamente responsável pelo estado do debate político hoje.

terça-feira, 3 de março de 2015

A Minha Hora Mais Silenciosa

De repente, de coração apertado pelo sussurro da minha hora mais silenciosa, me vi quase que em um lamento:

- Ah, se eu houvesse descoberto as virtudes das artes mais cedo em minha vida... ou o sentido da terra!
Quem sabe o que seria de mim hoje? Um atleta ou artista profissional? Será que minhas artes poderiam pagar minhas contas? Será que eu poderia encampar carreira de um corredor, nadador, poeta, músico, o que seja..? Alguém que gozasse da plenitude da vida? Que vida levo eu, então? É a vida que eu quis, decerto - mas é a vida que eu quero?

Com isso, não quero dizer que meu desejo, hoje, é menos pleno, menos forte - exatamente o contrário - e justamente por isso que me permito deitar sob o portal do instante imenso e olhar para trás: pois, sei que há ainda o infinito à minha frente.

Libertei-me de um jugo. De um não!, vários! Ora, de quê importam para vós, amigos? Estou livre para quê? Para me atar ao jugo do tripalium?

Esse é o sussurro que me dilacera os tímpanos; me estraçalha os ossos dos ouvidos.

Quero encarnar o sentido da terra! Quero, enquanto criador de conceitos, fazer da arte o meu ofício!

Ah, perdoai-me, amigos, pois que a partir de hoje terei que utilizar-me novamente do ~corpo-sem-órgãos~ que construí para mim...
Enquanto, hoje, não queria fazer da vida outras coisas que não compor, tocar e cantar; correr, pedalar e nadar! Sob o sol, amigos! Sob o hálito morno do sol, que é como o meu próprio, cheio de amor à terra; como eu mesmo, um amor que se dá e, assim, toma para si as coisas mais belas.

Ó, amigos! Perdoai-me! É só o gelo da noite a esfriar os meus ossos... Aurora vindoura!

Esqueletos Hodiernos e Seus Acenos Pavorosos

Pois bem: do homem mais covarde que reconheci sobre a face da terra; de uma água que se turva para pretender-se profunda - a saber, aquele a quem a biologia me chama de genitor - poderia apenas, e somente, brotar a mais elevada coragem; a assassina mais violenta; o mais efetivo ataque; que ri da morte e diz: "Foi isto a vida? Muito bom! Mais uma vez!" - eu mesmo!

Pois que pertenço à linhagem dos que se reconhecem herdeiros de forças milenares - destruidoras de ídolos e criadoras de sentidos! - tal qual o próprio Nietzsche, a quem peço perdão pela vulgarização de sua estética. Nietzsche, aquele que retorna eternamente em mim, e haveria de ser grato por tanto! Como eu sou.

"Em meus filhos quero reparar o ser filho de meus pais: e em todo futuro - este presente!

Assim falou Zaratustra"

O Anti-Petismo e a Crítica Pela Esquerda

Perfeito. O anti-petismo é uma forma de manifestação do ~pensamento~ conservador que é, ao fim e ao cabo, anti qualquer coisa que lhe pareça ameaçar os privilégios de classe e/ou suas convicções morais; qualquer coisa que se proponha reorganizar as relações sociais de produção. 

Taí: quando o PT ruir - cedo ou tarde, isso acontecerá... - todos nós, os socialistas, teremos de lidar, e aí será bom estarmos BEM PREPARADOS, com esse ódio ignorante, despolitizado e, até lá, com todos os instrumentos de poder do Estado de volta nas suas mãos - para nos torturar e jogar de aviões de novo? Quem sabe?!

"Onde já se viu um ex-guerrilheiro levar um partido de massas ao poder no Brasil? Não sabe ele que essa terra tem dono?" - E de nada adianta explicar que os governos do PT são fundamentalmente de direita no aspecto econômico e TIMIDAMENTE social-democrata no aspecto social.

Sobre a Paralisação dos Professores da Rede Pública do Distrito Federal (fev. 2015)

1. Pergunto: de que serve um sindicato, uma classe, que após quase 3 meses de impasse junto ao GDF em relação aos pagamentos atrasados realiza uma semana de paralisação das atividades no início do ano letivo para, no fim, hoje acatar, basicamente, a mesma proposta que o governo já havia apresentado anteriormente? Como justificar ante a sociedade, a comunidade de famílias e estudantes, essa semana de paralisação depois disso?! 

2. Por que a maioria da assembleia acatou o parcelamento do nosso pagamento - que foi tão atacado anteriormente -, que será realizado, não mais pelo endividamento público do GDF (A.R.O. - que também era um problema...), mas pelo remanejamento de verbas que serviriam para pagar servidores/serviços de outras áreas do governo? Então, tudo bem tirar o salário dos outros pra pagar o nosso?!

3. O sindicato dos professores convocou nova assembleia com indicativo de greve para o 5º dia útil de abril (!) contando, evidentemente, com o ~fortalecimento da organização da base~. Quanta pelegagem! Quanto esforço pela desmobilização!

4. Se as condições jurídicas e orçamentárias se alterarem nessa semana que entra - como essa liminar suspendendo o parcelamento dos salários da saúde - e nosso salário novamente atrasar? Vamos ter de começar a organização toda novamente, aguardando as reuniões dos negociadores do sindicato com o governo? Tudo isso me lembra dezembro, quando o sindicato se reunia com o Agnelo que dizia "nessa noite o salário estará na conta!" e fez isso umas, sei lá, 5 vezes...

5. Por que, já que havíamos iniciado o transtorno que é, tanto para nós quanto para a comunidade escolar, a paralisação, não declaramos o indicativo de greve hoje mesmo, forçando outra proposta do governo que nos fosse mais objetiva na garantia das demandas?

Taí: pra mim, o sindicato arregou em peitar o TJDFT e pagar as multas por dias paralisados (é um sindicato RICO. Quem conhece como funciona a psicologia dos ricos sabe que não correm qualquer risco com dinheiro) e, com a radicalização, perder o controle da base da categoria. Alguns micropoderes exibidos na condução da assembleia sinalizam isso. E, vamos falar a verdade, a tal "base" é bastante criticável - pra dizer o mínimo - em análise política... o que leva ao próximo ponto:
Tenhamos algum respeito à realidade: o sindicalismo ~petista~, intrinsecamente ligado à ordem das instituições semi-feudais brasileiras, esbarra em limites que a cada vez mais se insinuam. As questões que se impõem sobre nós: quais são estes limites? Como superá-los? Que nova organização poderá surgir daí? Como construí-la?

Eu não sei de nada!